Árido

Rincão Alto, 1952. 

Num verão abafado, Carlos Moritz trabalha em sua terra, para o sustento de suas filhas Dilva e Elsa. No entanto, acontecimentos envolvendo uma onda de violência crescente tiram a sua paz. A cidade se organiza para tomar medidas, mas a violência alcança a vida de Carlos. Da capital Florianópolis, chega a solução: um promotor de justiça, que não deixará nenhum crime impune. Nem do presente, nem do passado… 

Árido é um romance ambientado no interior de Santa Catarina. Suspense, tensão e dificuldades permeiam a vida do protagonista. Carlos e suas filhas precisam aprender a conviver juntos e a superar as adversidades, ou serão engolidos pela violência.

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A Editora Caseira e o autor Luiz Cláudio Altenburg, convidam você e sua família para o lançamento do livro Árido, primeiro romance escrito pelo Autor. O lançamento será online e acontecerá no dia 17 de abril de 2021 (um sábado), às 17 horas. Nesta ocasião, haverá uma apresentação feita pelo autor, contando um pouco sobre a obra.

Sobre o livro

Árido é um romance com influências históricas. Sem ter a preocupação de ser fiel a fatos e acontecimentos do passado, há, entretanto, elementos históricos, como se pode observar nos costumes e no cotidiano das personagens, habitantes de uma localidade no interior de Santa Catarina.

 

Concebido inicialmente como texto de dramaturgia, Árido não se transformou em uma peça de teatro. As ideias principais, contudo, permaneceram presentes na cabeça do autor e viraram prosa. As personagens centrais da história e o esqueleto da trama continuam os mesmos daquele texto inicial para teatro. Árido foi concluído em 2016 e ficou alguns anos engavetado até que, em 2020, o autor decidiu publicá-lo.

“Carlos saiu em disparada, passos largos e firmes, sem virar-se para trás. Decidido a entrar na sua casa e trancafiar-se lá dentro, só desejava cair na cama e esquecer suas aflições: a violência, a vida miserável, a incompreensão por parte de Elsa e de Dilva, as queixas.”

Leia o primeiro capítulo

 

Capítulo 1

Rincão Alto, verão de 1952.
O sol, impiedoso, castigava Carlos a duras penas enquanto ele golpeava a terra virgem com a enxada.
De quando em quando, era necessário parar o trabalho para esfregar o rosto, limpando o suor da visão, do nariz, da boca. O chapéu de palha não mitigava a sensação de desconforto. Não havia água por perto e o cantil jazia vazio na lama. Estava vazio fazia tempo.
E nem era de tarde ainda.
Carlos estava atrasado. Não terminara ainda de criar os sulcos e de enchê-los de sementes. A extensão de terra era grande, a distância entre a portinhola da entrada até o ponto onde estava era de quase 300 metros. Muito grande para uma pessoa apenas dar conta. Mas ele precisava dar conta. Por ele. Pelas meninas.
Estava tão quente que nem os passarinhos se atreviam a cantar. O tempo todo, tinha a sensação do suor escorrendo pelo corpo inteiro. A roupa grudava na pele, toda empapuçada.
Ao longe, escutou um assobio. Foi chegando mais perto. Carlos
parou de sulcar a terra e olhou para a direção do som. Era Dorvalino.
Andava de um jeito calmo, bem tranquilo. O jeito de caminhar de Dorvalino. Quase um inferno, e Dorvalino andava sem pressa.
Nem se dignava a procurar uma sombra. Ainda tinha a audácia de vestir um casaco leve! Ele se aproximou, levantando o chapéu, numa espécie de saudação.
— Bom dia, Carlos.
— Bom dia, Dorvalino.
— A terra está boa hoje?
— Olhe você e responda.
— Eita… De novo, Carlos? O mosquito do mau humor te picou?
— Homem, não sente calor? Eu odeio calor!
— Eu sinto calor. Só não me incomodo como você.
— Hum, deve ser sua pele morena.
— Bem possível.
Dorvalino pegou um pouco de fumo e enrolou num pedaço de palha de milho. Acendeu e começou a fumar, bem pausadamente.
— Escuta, Dorvalino, vai ficar aí largado? Tenho muito serviço, preciso preparar a terra até ali ao pé do morro.
— Quer ajuda?
— Vou aceitar sim, se não tem nenhum outro afazer.
— Já os terminei. Posso te ajudar.
— Não vi sua enxada.
— Não a trouxe.
— Então como quer me ajudar?
— Pensei em colocar as sementes nos buraquinhos.
— Ah! Eu faço o trabalho duro e você fica na moleza? Estou desde cedo aqui só fazendo os sulcos e quer fazer o mais fácil?
— Se não quiser, então, vou-me embora.
E deu meia volta. Fumando sem pressa.
— Espera, Dorvalino. Fica.
Os dois começaram a trabalhar. Carlos fazendo os sulcos. Dorvalino preenchendo-os com as sementes. O terreno tinha uma pequena elevação. E eles estavam quase no final.
— Sabe de alguma novidade lá da cidade?
— Novidade sei bastante, mas estou cansado delas.
— Ué, por que, homem?
— São ruins.
— Não tem nenhuma boa?
— Não.
— Me conta uma ruim, se só tem ruim! Mas fala alguma.
— Prenderam mais um rapaz.
— Mais um?
— Sim.
— O que aconteceu?
— Foi pego roubando umas frutas na casa de um comerciante rico.
— Qual comerciante?
— O Kleindorff.
Carlos ficou irritado.
— Esse povo parece que não pensa! Roubar gente rica é querer arranjar dor de cabeça.
— Ele fez isso perto do meio-dia.
— Meio-dia? É vontade de querer ser preso.
— Pode ser, Carlos, pode ser. Mas essa ainda não é a notícia ruim.
Carlos terminava de remexer a terra quando parou e enxugou o suor com a camisa, fitando Dorvalino com estranheza e ar de suspense.
— Continua. Fala, homem!
— Kleindorff soltou uns cães. Morderam feio a perna e o coitado sangrou bastante. Um conhecido meu passava ali naquele mesmo instante e contou todas as minúcias. Esse rapaz vai ter sorte se andar sem mancar. Bom, quando chegou o encarregado da delegacia, o estrago estava feito. O infeliz conseguiu subir uma árvore, de que jeito não sei. A árvore ficou toda vermelha. Não sabiam se o rapaz berrava de dor ou de desespero.
— E ferido desse jeito, foi preso? Por que não levaram ao hospital?
— Quem se dignaria a levar um pé-rapado numa viagem de 20 quilômetros até o hospital?
— Não tinha como chamar alguém para ajudar?
— Carlos, você é meio devagar das ideias. A pessoa mais próxima além
do encarregado e do próprio rapaz era justamente o dono dos cães, o menos interessado em ajudar.
— Ora, veja. O encarregado foi até esperto.
— Sim. Ao chegar à delegacia, o encarregado fez um curativo. E tem mais.
— Fala de uma vez. Já parei o serviço para ouvir.
— Ele fugiu da delegacia. Aquele rapaz ferido conseguiu fugir. Rendeu o encarregado, amarrou-o e o amordaçou. O rapazinho pegou a chave, saiu pela porta da frente e trancou a delegacia com o encarregado dentro.
— Pulando de um pé só?
— Chega quase a ser engraçado. Esse tal de encarregado decerto não trabalhará mais na delegacia. Porém, aqui na região, o rapazinho manco não foi o único que cometeu um delito. Antes dele, tiveram mais dois, somente este mês.
— Uns anos atrás, não tinha isso não.
Dorvalino concordou.
— Uns anos atrás, a pessoa que menos tinha serviço era o delegado. Tanto é que ele até ajudava o padre, o prefeito ou qualquer outra pessoa, para arranjar alguma coisa para fazer.
— Os tempos mudam, Carlos.
— Eu achava que só aconteciam essas coisas na capital.
Carlos voltou a trabalhar, criando sulcos na terra fofa. E depois parou e continuou a falar, como se fosse para si próprio.
— Se as pessoas trabalhassem como eu, elas não teriam tempo para cometer crimes.
— Nem todos pensam como você, Carlos.
— Pois deveriam. É ou não é? O trabalho dignifica o homem.
— Sei não.
Carlos, ao perceber que o seu amigo não concordava com suas palavras, mudou o tom da conversa.
— Pelo menos, a violência não chegou a Rincão Alto ainda. Estamos seguros.
— Não vai tardar, Carlos. Não vai tardar.
Continuaram trabalhando na terra. Carlos fechou o cenho, incomodado pelo calor, e começou a fazer os sulcos rapidamente. Havia cansado daquela conversa.

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Sobre o autor

Luiz Cláudio Altenburg é blumenauense, nascido em 1980. Historiador, mestre em História Cultural pela UFSC, atua como funcionário público municipal em Indaial (SC). Árido é o seu primeiro romance publicado. Além de romances, escreve contos e crônicas. É também autor do livro Osvaldo Melo — uma trajetória, publicado pela Federação Espírita Brasileira.